quarta-feira, 15 de abril de 2009




Serra da Peneda



Marcha às Brandas das Gémeas e Porta Covelo
14 Março 2009 - 18 km – Moderado/ Alto


A introdução do milho nas montanhas do noroeste, provocou profundas alterações na organização do espaço serrano, obrigando ao cultivo daquele cereal nas terras mais baixas. Após as sementeiras, era então necessário deslocar o gado para os cimos aplanados, cujo solo tinha pouca aptidão para a agricultura mas, em contrapartida, ofereciam excelentes condições para a pastorícia. Estas deslocações para os altos da serra, ganhavam grande amplitude no Verão, designando-se aqueles lugares, por brandas de gado. Da mesma forma, os campos de cultivo a cotas elevadas e respectivas “habitações”, deram origem às brandas de cultivo. O assunto é mais complexo, mas não é o nosso objectivo aprofundar a questão, uma vez que existe documentação que trata este tema de forma muito completa.
As brandas das Gémeas e Porta Covelo, associam estes dois tipos de ocupação, justificando uma visita. Para quem as visitou e conheceu em tempos mais recuados, havia naturalmente alguma curiosidade em observar o seu estado actual.
Para trás ficaram anos de febril actividade, desde as sementeiras às vezeiras, e a utilidade de todo o património construído - calçadas, cabanas, pequenas pontes e levadas, que hoje aguardam o trabalho destruidor da intempérie. Note-se que o nome de Gémeas, advém do facto das cabanas, com o tecto em falsa cúpula, estarem associadas aos pares. Pois num belo sábado de Março, fomos visitá-las, partindo do lugar de Padrão. Uma íngreme calçada conduz-nos até à branda do Alhal, onde fizemos uma curta paragem para dar descanso ao corpo e ao mesmo tempo estender a vista para o vale do rio Vez.
As encostas transformadas pelo homem em pequenos socalcos, bordejados por videiras, formam uma extensa escadaria, onde domina a agricultura intensiva. O rio, corre no fundo do vale que se forma entre os contrafortes da serra da Peneda e a vertente sul da serra da Anta.
Retoma-se a caminhada para a branda das Gémeas, percorrendo um carreteiro, onde os sulcos produzidos nas lajes pelos antigos carros de bois perpetuam tempos de trabalho árduo. Estamos agora um pouco acima dos 1000 metros de altitude, num local donde podemos observar toda a extensão da branda. A visita faz-se sem pressas uma vez que parte do grupo desconhecia este espaço embora, para os veteranos nestas andanças seja a confirmação dum abandono sem limites. Os rebanhos escasseiam, assim como os gritos dos pastores – Héééé!! Chibooo!!. Faltam os sonoros toques de búzio quando o lobo era avistado e falta sobretudo a presença humana.
Há ainda que palmilhar a subida até Porta Covelo, com o calor a fazer sentir os seus efeitos. O piso do caminho não ajuda, pelo que os mais desgastados iniciam um coro de protestos que só termina quando finalmente parámos numa pequena rechã. Após almoço, iniciamos o regresso, descendo pela encosta do Menjoeiro, visitando em seguida a branda do Rio Covo, com os seus belíssimos bosques. A parte final do regresso foi dedicada de novo à fotografia dos socalcos e pequenos aldeamentos encaixados no vale do rio Vez, descendo-se lentamente até ao povoado onde iniciámos a marcha.

Bicho

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