quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Pelos trilhos da medicina popular

O " Dente Santo de A. da Nóbrega"

Grau de dificuldade - Moderado

Extensão - 11 km
Data - 2009.12.12



Com excepção dos mais jovens, poucos serão os que nunca se cruzaram com o receituário da medicina popular. Bastará recuar aos tempos da mocidade e recordar a forma como as nossas avós, curavam maleitas. Utilizando remédios caseiros, sem recurso à consulta médica, assim nos curavam, coisa que hoje seria impensável. Longe vão os tempos em que nas aldeias, ir ao médico ou à farmácia constituía uma aventura, e era necessário por vezes palmilhar um bom par de quilómetros.
O cancioneiro popular, trata estes temas com certa ironia, pelo que não resistimos a transcrever a seguinte quadra:

Duas coisas há no mundo
que não posso entender
os padres ir p´ro inferno
e os surgiões morrer...

O tema para a nossa marcha de Dezembro, surgiu-nos através do Correio da Manhã, noticiando a localização do "dente santo" cujo paradeiro era desconhecido desde que Manuel António Martins fora preso por volta de 1920. Muito resumidamente, o " dente santo" gozava do privilégio de prevenir a raiva, desde que as pessoas ou animais fossem benzidas com ele. O assunto está bem documentado num texto da autoria do professor doutor José Pires de Lima da Faculdade de Medicina do Porto - " O Dente Santo de Aboim da Nóbrega e a Lenda de S. Frutuoso" tema apresentado numa sessão científica em 3 de Junho de 1921. Este documento foi enviado previamente a quem confirmou a sua presença na marcha, pelo que excluímos a possibilidade de o transcrever parcialmente ou na íntegra.
Aboim da Nóbrega foi sede de concelho, extinto em 31 de Dezembro de 1853, e em tempos mais recuados cabeça das Terras da Nóbrega (séculos XII e XIII). Muitos dos participantes recordar-se-ão das nossas marchas ao castelo da Nóbrega, e posteriormente ao fojo do Lobo de Gondomar.
Numa região onde a ruralidade convive de forma sustentada com os tempos actuais, a água está sempre presente, quer através das inúmeras facetas ligadas ao regadio ou fora do seu curso natural, ligada ao ciclo do pão - onde despontam os moinhos, eiras e os espigueiros, com as suas belíssimas portas trabalhadas, sem rival no universo minhoto. Para atingir o soalheiro vale de Aboim, por onde corre o rio Vade, partimos de Casais de Vide em direcção ao lugar de Póvoa Dura. Deste lugar baixamos às Lameiras onde atravessamos o ribeiro, percorrendo caminhos rurais e de pé posto, por entre verdejantes lameiros, protegidos pelos muros em pedra solta. A espaços, bosques de carvalho alvarinho, despediam-se das suas folhas amareladas, anunciando o fim do Outono. Fomos rompendo pela encosta poente do vale até termos a aldeia a nossos pés. Descemos lentamente para o lugar da Várzea, caminhando na direcção da "Fonte do Dente Santo", que teve visita solene. Em seguida, atravessamos o rio Vade continuando até à praia fluvial. Dirigimo-nos então para a igreja, onde é visível numa padieira do alçado Sul a cruz da Ordem de Malta. Regressamos atravessando o rio nas poldras e subindo de novo até às Lameiras, procurando o lugar de Casais de Vide. Depois de algumas peripécias devido aos caminhos inundados, passamos pela " Casa da Pequenina" terminando a marcha a observar a paisagem arrebatadora que formam as cristas agrestes da Amarela e do Gerês, tentando ainda identificar Mixões da serra, onde o ritual da bênção dos animais, se cumpre desde o séc.XVII.













segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trilho do Magusto

Grau de dificuldade - Fácil
Extensão - 8,4 km
Data - 2009.11.14
Como é conhecido, a celebração do magusto está associada a uma lenda, em que entra um soldado romano, mais tarde conhecido por Martinho de Tours. Cavalgando no regresso a casa debaixo de grande intempérie, deparou com um mendigo quase nu, pedindo auxílio numa curva do caminho. Não tendo nada para lhe oferecer, com o auxílio da espada cortou a meio a sua capa de militar, dividindo-a com aquele. Diz a lenda, que Deus ao presenciar este nobre gesto, fez desaparecer a tempestade. Naquele momento parou de chover, o céu ficou límpido e surgiu o sol. Nos tês dias que ainda durou a viagem, um sol de estio forte e radioso, acompanhou o soldado, daí derivando a expressão - Verão de S. Martinho. É assim que todos os anos, em Novembro, somos presenteados com pelo menos três dias de Sol, devido ao desinteressado gesto que salvou a vida ao mendigo.
Como no calendário litúrgico o dia de S. Martinho se celebra a 11 de Novembro, e o nosso magusto estava marcado para 14, as contas estavam bem feitas e era lógico esperar um dia de sol.
Era de esperar, mas não foi assim que aconteceu, pois S. Martinho não cumpriu o que anualmente está estabelecido, deixando o grupo muito zangado. Apanhamos uma ou duas horas de sol, se tanto, pelo que terá que saldar esta dívida para o ano, e com juros.
O percurso, traçado para caminhar sossegado e a pensar na chouricinha assada, no paio, no tinto a escorregar pelas goelas, na broa e nas castanhas, foi periodicamente perturbado com a ameaça de chuva, afectando psicologicamente os caminheiros, a ponto de ter desaparecido o bagaço, fruto da intensa pressão a que o grupo foi sujeito.
Chegados ao local do magusto, como o tempo não era de fiar, viramo-nos para S. Tiago, cuja capela estava por perto. Nem assim nos safámos, pois este santo, talvez porque o assunto não tinha a ver com o seu pelouro, desinteressou-se pela questão. De nada valeu a promessa de esmola, ou recordar antigas caminhadas a Compostela.
O "Curioso" , a Teresa, o Rocha e o Américo encarregaram-se das chouriças. O Tino superou as expectativas no assar das castanhas. O verde tinto do Pimenta e outros afins, assegurraram a hidratação dos caminheiros. O grosso da coluna dedicou-se à nobre tarefa de fazer desaparecer o que ia sendo confeccionado.
Com uma chuva inclemente, regressamos embalados pelos cânticos dalguns caminheiros, com mais caminhadas no lombo que pêlo nas sobrancelhas e que nunca os ouvíramos cantar durante anos e anos de caminhadas...Há quem veja neste histórico facto, dedo do santo, numa atitude de querer ajudar o grupo sujeito a forte tormenta.
Os mais práticos sustentam porém, que os tempos são outros e que tal milagre pode estar associado ao desaparecimento precoce do bagaço...
Terminamos no café da "madrinha" esperando que para o próximo mês ter mais sorte com o tempo.