Extensão - cerca de 24,6 km
Data --------------2011.09.10
Data --------------2011.09.10
O dia apresentou-se de má cara, quando pela manhã arrancamos de Viana do Castelo. Era o prenúncio para um dia pardacento, com chuva e nevoeiro, que tiveram a amabilidade de nos acompanhar durante toda a caminhada.
Partimos do santuário da Senhora da Peneda, local onde a natureza caprichou, enquadrando harmoniosamente o património construído com o fraguedo da serrania envolvente. A devoção que o povo dedica a este altar de fé, vem de longe, e está associado às epidemias que devastaram o país, levando as populações em romagem e penitência, solicitando proteção à Senhora das Neves, que é o verdadeiro nome da Senhora da Peneda. Os romeiros chegavam a este local, vindos por assim dizer, dos quatro pontos cardeais, mas são ainda bem conhecidos os itinerários que seguiam, conforme o local de partida. O cabeço da Meadinha, a maior parede de escalada espanhola em território português, viu-nos partir, dois dias após ter terminado uma das Peregrinações Marianas, com grande tradição no Norte do país e Galiza.
O traçado do GR até à Várzea, cola-se ao itinerário que seguiam os romeiros vindos dos Arcos (zona Sul) e Barca. O velho caminho para Tibo ainda lá está, acompanhando o rio da Peneda, junto à Nédia. Os do Soajo vinham por Adrão, muito mais perto. Os grupos de romeiros, constituíam autênticos formigueiros humanos, que só se desfaziam no adro do santuário. Após passarem Tibo, atravessavam o rio da Veiga a caminho do Baleiral, entrando pelo monumental escadório, cantando e dançando ao som das tocatas, carregando o farnel e os foguetes da promessa, transbordando de alegria, apesar do cansaço. A jornada continuava pela noite dentro, com o auxílio das lanternas e gasómetros, e certamente com biqueirada aqui e ali nos pedregulhos dos caminhos. Mais tarde, com a abertura de algumas vias de penetração, pelos serviços florestais, a romaria foi perdendo esta encantadora originalidade. Para os mais fatigados, as castrejas alugavam jumentos a partir de Lamas de Mouro, onde se tomava o café da manhã, nas tendinhas à beira da estrada.
Pois é, mas é tempo que já lá vai… Quem vai à Senhora da Peneda, vai com devoção, mas também para fazer a festa, que atravessa todas as gerações. As noites, são preenchidas com os bailaricos e as cantigas à desgarrada, ao som das concertinas, ferrinhos, reco-reco, bombos e castanholas, animadas pelo Nelo Sargaceira, pelo Carvalhal da Ermida, o Chico de Tibo, o Sindinho, o Canário, o Manuel Silva de Sampriz, o Zé Augusto, o Cunha de Vila Verde e muitos outros artistas populares, constituindo o lado profano da romaria.
No local onde se junta o caminho que vem de Tibo com o da branda das Ínsuas, paramos para descansar os butes, massacrados pela aspereza dos caminhos. Depois da Várzea, logo que nos foi possível, fugimos ao alcatrão, por caminho de madeireiro, subindo a Paradela e fugindo ao traçado do GR, mas encurtando o percurso. A parte final percorreu-se em caminhos talhados em granito rijo, escorregadios, num sobe e desce constante. É obrigatória uma pausa no “ miradouro natural “, ao passar em Cunhas, para observar o rio Lima que corre numa apertada garganta. As subidas e descidas vão alternando, à medida que progredimos ao encontro da antiga ponte do Covelo, para a travessia do rio de Adrão. A partir da ponte, subimos a custo até à eira comum, onde se encontram os espigueiros em granito, um dos ex-libris da antiga vila do Soajo. Terminamos a caminhada, na “ Tasca da Igreja “, afogando a sede e dando um tom religioso a esta profana atividade.
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