Extensão – cerca de 21,1 km
Data – 26 de Julho de 2009
Chegamos a Parada quando os primeiros raios de sol iluminavam o nosso objectivo, num distante penhasco da serra. Com efeito, a minúscula capela do S. João da Fraga vista de longe, confunde-se com um pequeno ponto branco despontando no horizonte, desafiando-nos para mais uma caminhada.
Bons tempos em que a festa era acompanhada pelo banjo do sr. José do Outeiro, e os foguetes ecoavam por toda a serra. Terminada a cerimónia religiosa, regressava-se ao Porto da Lage, onde havia festa rija, e um grande convívio, com baile, concertina, cantares ao desafio e gaiteiros, como já tivemos ocasião de presenciar.
Partimos bem cedo, atravessando a aldeia ainda adormecida, pois nem latido de cão vadio se ouviu, alertando para a nossa passagem.
Rodeamos o Canda por poente até cruzarmos com o caminho que desce do fojo do lobo e prosseguimos atravessando o ribeiro do Beredo. Continuamos pelo do estradão que dá acesso à Gafaria, acompanhando o ribeiro da Teixeira.
Por um pequeno trilho que inicialmente atravessa um belíssimo carvalhal, subimos gradualmente uma das encostas, ganhando rumo para o S. João da Fraga. A determinada altura perdemo-lo ou desapareceu, pelo que fomos subindo a corta mato.
Procurando sempre as melhores passagens, entre lajedo e mato rasteiro, atinge-se o lombo da encosta, donde se avista a fraga que sustenta a altaneira capela.
Segue-se uma rechã que é preciso percorrer, o que se faz sem problemas, se acompanharmos os mariolas. Depois de atravessarmos mais um carvalhal, depressa encontramos o caminho que vem de Pitões.
A subida é muito acentuada, mas lá do alto dos seus 1163 metros a paisagem é soberba. Para norte avistam-se os cotos que demarcam a linha da raia. Quem já atravessou a serra, facilmente distinguirá no meio da agreste cumeada a roca Sendeira, a fraga de Brazalite e o cabeço da Fonte Fria.
Para Sul, o denso bosque do vale do Beredo e o espelho de água da barragem de Paradela, destacam-se na paisagem granítica.
Para nascente, os contornos suaves da Mourela, onde termina o áspero relevo e começa a aridez do planalto transmontano.
Para poente, o fraguedo do Gerês onde se misturam os tons verdes dos poulos e carvalhais, com o cizento das encostas mais despidas.
Regressamos a Pitões que se apresenta mais animada nesta época do ano. Após a dura subida desde o Porto da Lage, paramos no café Rato do Eiró.
Atravessamos a aldeia e atalhamos para os lados do miradouro da cascata. Por por um minúsculo trilho que atravessa lameiros, levadas e carvalhal, fomos desembocar no caminho que vem da aldeia em direcção ao ribeiro do Campesinho. Atravessamos a ponte e exploramos a as margens para montante, onde há belíssimas cascatas.
A partir daqui, o caminho atravessa o antigo e belo carvalhal do Beredo, conhecido desde a idade média, onde o silêncio só é interrompido pelo muralhar das águas ou pelo canto de alguma ave do bosque. A espaços, as copas permitem espreitar para o exterior e observar ao longe, a capelinha onde estivemos. O caminho por vezes estreita-se passando a trilho, alargando-se antes de chegarmos à portela da Fairra, onde se localiza o fojo do lobo de Parada.
Daqui em diante, atravessamos lameiros e campos de feno, até atingirmos a aldeia de Parada, cansados de tanto andar. Apesar de ser um percurso exigente, mesmo saindo de Pitões, engrossa a cada ano que passa o número dos que fazem a romaria. Apesar do esforço dispendido que obriga os vários grupos a períodos de silêncio, em que apenas se houve a respiração, é frequente ouvir dizer-se :
"Enquanto há pernas, não há cabeça, quando vem a cabeça já não há pernas"