domingo, 21 de fevereiro de 2010

Por terras com tradição - Marcha dos Quatro Abades

                                                  Grau de dificuldade : Fácil
                                                  Extensão …………: 11,0 km
                                                  Data ………………: 2010.01.30



      Sobranceira a um verdejante vale, salpicado de pequenos casais, dispersos pelas férteis leiras agrícolas, ergue-se a “Mesa dos Quatro Abades”, assinalando os limites de quatro aldeias limianas.
O tempo não ajudou e o frio fez-se sentir na zona da cumeada, donde se avistam as serras da Peneda e Amarela, com as cristas tapadas pelas nuvens. A chuva embora não fosse desejada, abençoou a marcha, aparecendo da parte da tarde e afastando-nos do marco do Penedo Branco. O percurso foi-se fazendo pelos caminhos, trilhos e até a corta mato, cruzando-nos com um percurso marcado que coincidiu com o nosso, na parte final entre a “mesa” e o cruzeiro.
      A Mesa dos Quatro Abades era conhecida no século XVIII, mais precisamente desde 1755. Terá sido nesse ano, data em que o nosso país foi assolado por diversos tremores de terra, que os abades das quatro freguesias vizinhas ( Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte ) acordaram em encontrarem-se, para tratarem em conjunto dos problemas que mais afectariam as suas paróquias. No dia de S. Sebastião, partiam as procissões em honra do mártir pedindo ajuda para os males da peste, da fome e da guerra. As quatro procissões dirigiam-se para o marco limite daquelas freguesias, e os clérigos sentavam-se no banco correspondente a cada paróquia, discutindo as mais diversas matérias, facto que os obrigava por vezes a aconselharem-se com o seu povo (que assistia por perto). Esta tradição ficou esquecida durante muito tempo, como consequência da diminuição do seu peso social, substituídos nos tempos actuais pelos presidentes de junta. O logradouro foi reconstruído e um pouco mais tarde, por volta de 1988, recuperou-se a tradição mercê da iniciativa das freguesias, já com outros actores, celebrando-se no terceiro domingo de Julho de cada ano. O encontro actual é mais reivindicativo, onde os autarcas avançam com pedidos para colmatar as carências de cada freguesia, perante o edil que assiste imperturbável. Quando este coloca a mão no marco, respondendo aos pedidos e testemunhando o seu comprometimento, as suas últimas palavras confundem-se com os primeiros acordes das concertinas. A festa prolonga-se pela tarde para justificar o cabrito ou ao arroz de pica no chão, bem regados pelo tinto da região, que escorregando com facilidade, ajuda a construir esta participação de cidadania, para que a tradição se prolongue através das gerações mais novas.
















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