segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trilho do Magusto

Grau de dificuldade - Fácil
Extensão - 8,4 km
Data - 2009.11.14
Como é conhecido, a celebração do magusto está associada a uma lenda, em que entra um soldado romano, mais tarde conhecido por Martinho de Tours. Cavalgando no regresso a casa debaixo de grande intempérie, deparou com um mendigo quase nu, pedindo auxílio numa curva do caminho. Não tendo nada para lhe oferecer, com o auxílio da espada cortou a meio a sua capa de militar, dividindo-a com aquele. Diz a lenda, que Deus ao presenciar este nobre gesto, fez desaparecer a tempestade. Naquele momento parou de chover, o céu ficou límpido e surgiu o sol. Nos tês dias que ainda durou a viagem, um sol de estio forte e radioso, acompanhou o soldado, daí derivando a expressão - Verão de S. Martinho. É assim que todos os anos, em Novembro, somos presenteados com pelo menos três dias de Sol, devido ao desinteressado gesto que salvou a vida ao mendigo.
Como no calendário litúrgico o dia de S. Martinho se celebra a 11 de Novembro, e o nosso magusto estava marcado para 14, as contas estavam bem feitas e era lógico esperar um dia de sol.
Era de esperar, mas não foi assim que aconteceu, pois S. Martinho não cumpriu o que anualmente está estabelecido, deixando o grupo muito zangado. Apanhamos uma ou duas horas de sol, se tanto, pelo que terá que saldar esta dívida para o ano, e com juros.
O percurso, traçado para caminhar sossegado e a pensar na chouricinha assada, no paio, no tinto a escorregar pelas goelas, na broa e nas castanhas, foi periodicamente perturbado com a ameaça de chuva, afectando psicologicamente os caminheiros, a ponto de ter desaparecido o bagaço, fruto da intensa pressão a que o grupo foi sujeito.
Chegados ao local do magusto, como o tempo não era de fiar, viramo-nos para S. Tiago, cuja capela estava por perto. Nem assim nos safámos, pois este santo, talvez porque o assunto não tinha a ver com o seu pelouro, desinteressou-se pela questão. De nada valeu a promessa de esmola, ou recordar antigas caminhadas a Compostela.
O "Curioso" , a Teresa, o Rocha e o Américo encarregaram-se das chouriças. O Tino superou as expectativas no assar das castanhas. O verde tinto do Pimenta e outros afins, assegurraram a hidratação dos caminheiros. O grosso da coluna dedicou-se à nobre tarefa de fazer desaparecer o que ia sendo confeccionado.
Com uma chuva inclemente, regressamos embalados pelos cânticos dalguns caminheiros, com mais caminhadas no lombo que pêlo nas sobrancelhas e que nunca os ouvíramos cantar durante anos e anos de caminhadas...Há quem veja neste histórico facto, dedo do santo, numa atitude de querer ajudar o grupo sujeito a forte tormenta.
Os mais práticos sustentam porém, que os tempos são outros e que tal milagre pode estar associado ao desaparecimento precoce do bagaço...
Terminamos no café da "madrinha" esperando que para o próximo mês ter mais sorte com o tempo.



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Todos os caminhos vão dar à Varanda do Coura


Grau de dificuldade - Moderado
Extensão - 14,6 km
Data - 07 de Novembro de 2009



Ninguém ficará certamente indiferente à beleza das "Terras de Coura", onde a ruralidade completa uma paisagem singular. O minifúndio que se pratica nos alvéolos fertilizados pela meteorização, sempre conviveu em harmonia com a biodiversidade. O clima marcadamente atlântico, em parte devido à barreira de condensação criada pela serra d´Arga contribui para a panóplia de cores e tonalidades com que o mosaico agro-florestal nos surpreende a cada momento. O dia não estava de feição, mas conhecendo muito bem a região e não gostando de repetir itinerários, dispusemo-nos a abandonar a portela da Travanca, numa altura em que S. Pedro abençoava os caminheiros. Pondo de parte o estradão florestal, aproveitamos os caminhos de meia encosta que rompem para nascente. Num dia limpo e soalheiro, o esforço da caminhada é recompensado pela beleza da paisagem construída pelo homem, ao observarmos os socalcos das terras limianas de Rendufe e Labrujó Sobe-se gradualmente na direcção do Alto do Cabeço. Um atalho traçado um pouco antes da represa de Riomau, dá acesso ao estradão, que se atravessa, para descer até ao lugar de Vilares. Nesta parte do percurso toma-se contacto com o bosque misto das encostas que rompem desde Chavião para a Travanca. Destacam-se ainda alguns belos quadros rurais, e as arestas mais salientes do monte do Bico. Até à Seara optamos por um itinerário diferente do trilho marcado. A partir daquele lugar, seguimos o PR para atravessarmos a Ribeira de Cavaleiros e continuar por entre lameiros e campos de cultivo, onde com um pouco de sorte é possível observar as tradicionais práticas agrícolas. Evitámos Chavião, galgando a encosta até ao lombo da Braganda. Quem por aqui caminha sob uma densa mancha florestal, ainda pode descobrir alguns marcos em granito, bem aparelhados, onde estão gravadas as iniciais MN ( Mata Nacional ). Depois da Campela atinge-se de novo o estradão, mas até lá as colónias de cogumelos e o tapete de folhas próprio desta época, em que as árvoreas se despem, embalam-nos até atingirmos novo cruzamento. Optámos por subir ao Penedo do Rebolinho onde está edificado um excelente miradouro. Evitando retroceder, consegue-se com alguma dificuldade progredir para a portela da Travanca pelos atalhos que do miradouro se dirigem ao estradão e que de novo o abandonam para nos levar à antiga casa da guarda florestal.